Você sabia que há um computador disponível à comunidade
no mini-hospital do pozzobom? - Foi a frase que incrédula ouvi no ponto de
ônibus dia destes. Internet de graça? Isto é incrível - imaginei já ponderando
nas pesquisas todas que poderia fazer para enriquecer meus trabalhos
acadêmicos, e isto aos domingos e nas madrugadas.
Tomei um banho demorado, afinal não é todo dia que se faz
uma conexão à internet. Perfumei-me e levei comigo tudo que iria precisar:
canetas, caderno, disquete... Estampei o rosto com o melhor sorriso disponível
e adentrei às portas do pronto-socorro como quem adentra a uma nova etapa
existencial.
Tive que esperar algumas horas, afinal as crianças do
bairro já haviam descoberto alguns sites de jogos e apinhavam o pronto-socorro
numa euforia incrível. Havia até um
garotinho de grandes olhos e pernas incrivelmente finas, de uns três
anos de idade sugando algo que lembrava muito um pirulito.
Enfim, chegou o momento solene em que assentei - me à
frente do computador. Soube então que teria dez minutos de conexão, mas não
atentei para o fato até perceber que já os havia gasto aprendendo como se
utiliza o sistema. Levara comigo alguns endereços de sites, mas soube que não
poderia visitá-los, pois o sistema já fornece os endereços que você pode
visitar. Tudo bem - pensei e comecei a pesquisa sobre Almeida Garrett que meu
professor solicitara. Consegui adentrar a algumas bibliotecas que discorriam
sobre o escritor, já estava até eufórica quando de súbito apareceu novamente a
mensagem de que meu tempo se esgotara. Aquilo começou a inquietar-me, mas
esperta como sou não titubeei: muni-me de um disquete com ares de quem
encontrou a solução de tudo, entrei novamente no site e apressadamente cliquei
para salvar , entretanto, atônita recebi o recado de que o computador não
permitia que se salvasse o conteúdo nele pesquisado.
A esta hora eu já tamborilava com os dedos a
escrivaninha, então tive a idéia brilhante de imprimir o conteúdo pesquisado.
Olhei esperançosa para a recepcionista do hospital apontando a impressora,
contudo ela ofereceu-me um longo sorriso amarelo com um meneio de ombros: - não
imprime e nem há tinta na impressora - disse.
Não sei o que houve comigo, mas as crianças começaram a
esgazear os olhos e uma a uma foram se afastando em direção à saída. Ainda bem
que eu estava no hospital, disseram-me bem mais tarde, teria sido fatal se não
houvera sido socorrida de imediato.
Do quarto onde permaneci de repouso eu ainda podia ouvir
claramente a voz insidiosa do garotinho de pernas finas:
- Tato, deixa eu tilá o papel do pililito, deixa!
Prontamente a voz severa de um garoto mais velho
respondia:
- Não! Quem comprou fui eu, se tirar o papel eu chupo!
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