sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A chave para o Jardim Secreto


Há um encanto
de recanto
Mira cá tu,
Um pedacinho de encosta
uma terra quase remota
Terra de Maria
Terra de palmeiras,
sabiás, serras,
viçosas laranjeiras
Dentre seixos pálidos
dente de onça
bananas amarelas
ora marrentas
se maduras marengas,
tenros brotos de mostarda
verdes tons de farda
É uma terra encantada
incrustada na estrada
que leva ao longe mar
Marcham as formigas
felizes, livres
donas das próprias trilhas
pais, mães, filhas,
todas tão irmãs
paridas da barriga
do coração
de um mesmo intento
sonho de união
Os cacauzeiros
sonham a fruta em flor
bêbadas abelhas
grafam em dança
mensagens de esperança:
Sigam-me, há nectar irmãs!
Promessas de chocolate
Mira a noite de lua cheia
Cálida, pálida ao som das
Tubas dos sapos-boi
Crespas as jacas
mentem a languidez
das polpudas sementes
dormentes sob
as redes de fibras brancas
Nuances
Uma trilha sinuosa
íngreme insinua,
desafia: suba
e a descida embala
a lembrança das perninhas
magrelinhas de criança
Serelepes
Quando a noite cai assim
nos doces sons de silêncio,
a bruxuleante luz dos pirilampos
convidam meditar
ao som estridente dos grilos
e antes que se de conta,
Um raio de sol ilumina
o cantinho da aranha
já sugando sua mosquinha
vespertina
O ar fresco
invade os pulmões
revigora o coração,
e na alma
explode a chama
de vida contida
em canto de liberdade
Bom dia! - diz a vida
Os galos elegantes
galantes anunciam
o novo dia,
As galinhas paqueradoras
enterram as finas unhas
no húmus da fertilidade
cacarejando gostoso
a surpresa das minhocas gordas
Algumas já cismam cedo
e escolhem livres
cada ninho
O gatinho mia no telhado
e começa a cantoria
da felicidade de cada ovo
dádiva das galinhas…
Omelete com folhas de mostarda
não tarda
delícias de sabores
amores que não cabem
transbordam os sonhos
dissipam-se resquíscios de dissabores
O vizinho
o último dos caçadores
vem de longe com um presente
uma dádiva da palma:
palmito
Fresquinho
água na boca
refoga, alimenta
afoga em delícias
Quando o paladar já não suporta
um beija-flor furtacor
enfia o bico delgado
no brinco-de-princesa
doce visão de mel
asas transparentes
O céu cobalto
núvens desenhando
cumulonimbus
imitando formas
de coelhinho, elefante
passarinhos nos ninhos
núvens grávidas
de lágrimas celestes
O sol arde na pele
como um beijo sôfrego
envolventes lufadas
tardes mornas
Os pés flutuam no cascalho
como polichinelos às asas do vento
em direção inconsciente
à nascente
Jorra da fenda
água
cristalina, fresca
escorrendo em pequenas gramas,
bromélias,
minúsculas flores
Passada a sede
o caminho persiste
descortinando visões
Montanhas ao longe
sensações, gramas fartas de alpiste
As crianças assoviam
competindo com passarinhos
ressaltadas com o calango
ligeirinho
temerosas das cobras melancólicas
encobertas nas moitas
afoitas em pequenos sobressaltos
A descida convida a correr
e gritar enquanto o faz
qualquer coisa
Um grito,
até em tempos de guerra,
grito de paz.
A ponte de tábuas esconde
com auxílo das taiobas,
taboas,
bananeiras balouçando
sussurando ao vento:
- Bem vindos emboabas
A abóbada azul
abre uma brecha no algodão
e os raios brilhantes
emprestam cores ardentes
flamejantes folhas,
fosforescentes flores
Irrompe a tarde,
o som da água mole
em pedras duras,
vislumbra-se às margens
lilases aguapés
parecem prolepse:
água aos pés
Correm mães, tias
pais, filhos
gritam em coro:
“corre cotia na casa da tia...”
pés imersos em frescor
saias apanhadas
crepitam risos
reverberam sob a ponte
altas gargalhadas
Pequenos depósitos de argila
Põem-se alguns
a compor formas como Tarsila
mães curandeiras
inalam àss margens as raras
clorofilas
folhas, filos, se é mal: sara
A água é rasa
alcança os joelhos
Assentam-se os homens
Assueros
em seus tronos de areia molhada
A criançada em algazarra
espantam as garças esparsas
riem do sapo,
riem do caramujo
riem do lambari
apanham guarús na concha das mãos
e engolem um para aprender a nadar
Um estrondo ensurdecedor rasga o céu
- Olha a chuva!
Encharcados levantam-se
do corrégo utópico
preciosos seixos
aos bolsos
souvenirs
- Corre, vai molhar! Ah ah ah …
A tarde se cobre de sombria cinza
em silhueta uma pequena corrida
corta a subida íngreme:
- Quem chegar por último é mulher do sapo!
A chuva não tarda,
pingos grossos, doloridos
a corrida é ocasionalmente interrompida
para tomar fôlego
do sôfrego riso
A casinha é minúscula
uma mãe corre para o fogão
outra lava em grupo
crianças friorentas
com água quente do balde
cheirando a lenha
Já saem do banho dormentes
mamazinho quentinho,
cobertor, barulho de chuva
na Eternit
Uma sempre fica febril
gotinhas
nem sempre um sistema imunológico
permanece imune
a tantas sinestesias…
Café fresco, biscoito de polvilho
roupas secas,
pele cheirando a rio
sabonete glicerinado
cabelos penteados
A tarde convida ao sonho
Acalentados pelo escurinho
da tempestade de verão
o sonho é uníssono
O jardim é secreto,
e dorme
porque entardeceu
mas a memória
tem uma entrada secreta



Para minha família querida, minha mãe querida que aniversaria hoje, minha tia Maria que nos adormecia tanto, para que nunca despertemos do sonho que sonhamos juntos...
















sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Facebabel


Facebabel

No nome do livro
No livro da face
faces
na face de um livro
livres faces
Ápice de humanidade

Congregam-se no Templo titã
de Hipérion e Teia
filheiros

Castelo de fibra ótica
utopicalidade binária
do pensamento anti-filo:
monolinguismo tecnológico

Uma boca única
gritando onipresente
o caos da onisciência
pináculo da soberbia humana

No perfil de Pandora
Imagens sorridentes,
doutorado,
fotos nas águas azuis do Caribe
um filho sendo gerado
um carro novo
- Que mansão!
Felicidades ópticas,
desgraças célebres
Motim

Ftono clica curtir,
é o que Teia vê,
mas compartilha a Kronos
intensionando lançar-lhe os filhos
às profundezas de Gaia

Da caixa escancarada de Pandora
advém todos os males do mundo…
Mas o pior deles
vem do próprio pensamento
de querer enfiar a todos
na mesma caixinha minúscula

Compartilha, curte
Ignora…
Ah a dor dos ignorados...

Face a face clama:
Babel, babel, babel

Lança tua tribo aos confins
Espalha-te
Nosce Te Ipsum
Confunda-te com os que te entendam

Filhinhos…
que vossa face
não esfacele a de outrem
não sucite a ira de Kronos
Recuse a falar a mesma língua

Liberdade de expressão
é expressar,
não violentar o pensamento alheio
Que ganância considerar,
que falamos ou que falaremos
um dia a mesma lingua…

A mãe traída sonha
que Réia há de parir
o afável Interface
que tocará cliques