terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Outono do sonho

Outono do sonho


Secas

as folhas crepitam

lançadas ao vento

fadadas ao pó


Secas,

como palavras mal proferidas

como bocas besuntadas em veneno

sulcando a derme

de incuráveis feridas


Secas

gargantas engolem

setas flamejantes de infâmias

insultos, inverdades, insensibilidades...

que queimam enquanto cortam

as entranhas do ego


Secas

lágrimas extintas

ante a conformidade

impassíveis faces esfaceladas

do brio da esperança


Secas

jazem as fontes da vontade

secas de projetos ousados,

de sonhos-miragem

E ante as algemas da responsabilidade

o espelho dos outros

nos insultam

mediocridade


Secas

são suas bocas profanas

insanas, fétidas

secas suas existências

seus legados de coisas


Secas

Suas medalhas enferrujam

enquanto a vida jorra afora

um mar de sabedoria

no qual nunca hás de banhar


Secas

as folhas passarão,

o teu frio congelará

castigará

mas assim como o inveno passa

o vento já estala a fundação da tua folha

e em pouco voarás em retorno

do pó de onde vieste


Secas

suas palavras cairão no esquecimento

porém as estações se renovarão,

virão primaveras, flores

gentilezas da vida

Exalarão perfumes

e haverá serenata de pássaros nos fios

novas margens, novos rios


Secas

suas almas como gravetos hão de crepitar

como o fazem espinhos no fogo



Fabiana Avila | Poeta