quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Auto procurada



Procuro-me
desesperadamente
Desapareci lentamente
caco a caco
despedaçadamente

Estava a trilhar
apressada, atrasada,
a beira do abismo da falha
Perfeccionissimamente
passo a passo
cada pedra no caminho
um novo caco
esculachos
a cada descompasso

Ah barqueiro cruel
afanas pedaços do que fui
destilando em óbolo
as favas do meu mel

Do que sou, ainda em mim
restou aqui este coração
desfibrilado
acelerado
despetalado das róseas esperanças
pouco a pouco
Mais ainda tão cheio
do sangue da poesia

Se me vires por ai
nem que seja um mínimo estilhaço
lance um pão
sobre o oceano das minhas lágrimas

Por qualquer informação
que culmine no reencontro
recompensa-se generosamente
com uma pequena epifania