quarta-feira, 20 de junho de 2012

ilha


Uma ilhazinha de areia fina

Sob um céu de purpurina

Um único coqueiro sem cocos

Um caranguejo canhoto



A ilha paira sobre o vasto mar

Uma equilibrista entre água e ar

Sem cais, sem porto,conforto

A ilha tem seu caminho torto



Cavada do oceano roto, bruto

A ilha em seu estreito alicerce

Carrega ainda a sombra inerte

Da planta, continente interrupto



Da fonte apenas uma gota pinga

Em uma pedra côncava lapidada,

Um fio de água que a areia singra

Donde verde lodo brota do nada



Ilha só, não visitada, ondas que rugem

Violentas, ao comando das tormentas

Que atingem a ilha, línguas que pungem.

E a palmeira, como bandeira apascenta

Transcorrido grandiosos alardes

O mar se faz sereno feito cetim

E sob o céu de veludo das tardes

Vislumbra-se áspera areia marfim


As aves avistando-a do céu abaixo

Veem um ponto sobre o espaço

Ponto não medido por compasso

Que cadencia qual um contrabaixo


Se ponto de começo, ou se ponto de fim

Não se sabe, nesta ilha apenas se passa.

Uma força a esquadrinhou ao mar assim

Um ponto no espaço a nortear a barcaça


Que passa.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Tapete vermelho


Feito de lama, vermelha, cacos de vidro, seixos

Erosões abrem as ruas sem pavimento

Cães ocasionais escondidos embaixo de bancos rachados

Muros de tijolos, sem terminar, cimento escorrido

Mamoneiras molhadas,

Enchorrada

Casas caiadas de branco, ora em cores indefinidas

Encardidas de barro

Telhas no terreiro

Tijolos a esmo

Flores secas na rama seca

Cercas de arame farpado

Cheias de pelo de gatos escaldados

Com rabugem, de orelhas peladas

O vizinho xinga feio

A vizinha reclama do barulho

Lixo empilhado nos fundos e nas frentes dos quintais

Fétido.

Colchões queimados na esquina,

Espuma de geladeira,

Um bebê sempre chora, sem consolo

Uma mãe berra

Sapato furado

Latas de leite queimadas, amassadas

A chuva lava

Escorre, mistura

Engordam as larvas

A lama encharca o pé magro invadindo

O único tênis branco de vermelho, sujo

O pé fica gelado, gosmento

Atolado

Um atoleiro que gela doído os ossos magrelos

Abraçada aos cadernos pesados ela se equilibra

Segurando a sombrinha

Emprestada

Pontas rasgadas

Imagina que hoje é noite de estréia

Que a sombrinha é de renda,

Que pisa nas pétalas

Segurando a bolsinha fina

Cintila em seus olhos o diamante imaginário

Enquanto o salto fininho fica preso por um instante

Na maciês do tapete vermelho

Da janela uma mãe espia

Enquanto borda paetês no collant da filha bailarina

A circular está atrasada

Espirra barro quando passa

A escola

Chega encharcada

Disfarçada

Fita em transe o professor

Que a leva distante da roda de barro

Embaixo da carteira

Impaciência:

Impasse

Da ciência

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Tango


A boca vermelha voluptuosamente morde a rosa
(...)
Fascina,
(...)
A mão firme desce a espinha e puxa,
(...)
Brusca!
(...)
A perna longa os pés em ponta escapam da fina estampa da saia.
Bamboleiam os quadriz manipulados em movimentos ondulantes
concomitantes
excitantes.
(…)
Os dentes alvos cravam o tale tenro, rostos se colam por um instate
enquanto ele infante rouba a rosa e afasta o rosto num só movimento
(…)
Ora lento,
violento
(…)
Rodopiam o corpo e a imagem projetada
no salão sobre o chão de vidro fino
o peito arfa sob a fazenda, um fio de suor brota das têmporas
sob o cabelo negro
(…)
Contrastando a suavidade do lento
o salto bate no vidro do momento
(…)
Trinca!
(…)
O risco no chão sob um abismo feito de escuridão
Alheios os amantes dançam hipnotizados pelo som
Cintilando os brocados refletem a glória dos candelabros
(…)
Olhos que não se fitam, bocas que não se tocam
Almas que se entrelaçam ao calor do tango
Mariposas atraídas à luz brilhante
(…)
diamantes,
(…)
Envoltas no abraço rodopiam as sensações
ansiando o momento em que a flor exploda
de botão em pétalas rubras
(…)
Talisca que se abre
Ao pulso do sangue