Feito de lama, vermelha, cacos de vidro, seixos
Erosões abrem as ruas sem pavimento
Cães ocasionais escondidos embaixo de bancos rachados
Muros de tijolos, sem terminar, cimento escorrido
Mamoneiras molhadas,
Enchorrada
Casas caiadas de branco, ora em cores indefinidas
Encardidas de barro
Telhas no terreiro
Tijolos a esmo
Flores secas na rama seca
Cercas de arame farpado
Cheias de pelo de gatos escaldados
Com rabugem, de orelhas peladas
O vizinho xinga feio
A vizinha reclama do barulho
Lixo empilhado nos fundos e nas frentes dos quintais
Fétido.
Colchões queimados na esquina,
Espuma de geladeira,
Um bebê sempre chora, sem consolo
Uma mãe berra
Sapato furado
Latas de leite queimadas, amassadas
A chuva lava
Escorre, mistura
Engordam as larvas
A lama encharca o pé magro invadindo
O único tênis branco de vermelho, sujo
O pé fica gelado, gosmento
Atolado
Um atoleiro que gela doído os ossos magrelos
Abraçada aos cadernos pesados ela se equilibra
Segurando a sombrinha
Emprestada
Pontas rasgadas
Imagina que hoje é noite de estréia
Que a sombrinha é de renda,
Que pisa nas pétalas
Segurando a bolsinha fina
Cintila em seus olhos o diamante imaginário
Enquanto o salto fininho fica preso por um instante
Na maciês do tapete vermelho
Da janela uma mãe espia
Enquanto borda paetês no collant da filha bailarina
A circular está atrasada
Espirra barro quando passa
A escola
Chega encharcada
Disfarçada
Fita em transe o professor
Que a leva distante da roda de barro
Embaixo da carteira
Impaciência:
Impasse
Da ciência
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