Corcunda do peso das fábricas tantas
De botas, do siso, de cintos de risos
Ela adentra o cômodo em suas mantas
Empurra o carrinho cheio de juizos
No rosto os vincos da blasfêmia
cabelos emaranhados de infâmia
Calça sapatos que sangram os pés
bolhas da fricção da conveniencia
Caminha até um espelho adiante
e não se vê, se espanta, se rebela
rasga de si os botões censurantes
é tempo de lançar fora a mazela
O vestido roto, fétido de pragmática
rasgado em nesgas negras sensatas
Mãos trêmulas, os olhos estáticos
se lavam, lágrimas despem castas,
a máscara, as rugas, as linhas ásperas
o peito arfa e um alvo seio se mostra
outro segue, um umbigo em esfera
centro do círculo, do princípio desta
Ombros rejeitam o pêso dos desejos
mostram-se alvos, eretos, em meneio
costas que se alinham, ensejam
à medida que despe seus receios
O lábio agora esboça um ar de riso
a peça desliza, descobre o âmago
dos desejos puros sem modismos
o triângulo amparador, aconchego
As nádegas alvas, à mostra, sustentadas
por firmes colunas, suas fortes pernas
pilastras paralelas, de verdade alicerçadas
sobre os pés nus, em igualdade superna
Ela se reconhece assim no espelho
vislumbra em si o sábio centelho
Uma lufada lhe sopra esperança
desmancha as emaranhadas tranças
E ela caminha para a luz
Sem nada,
À luz da chama,
que lhe chama,
Sinceridade