quarta-feira, 7 de março de 2012

A partida

Tremeluzentes faiscavam os doces olhos, esgazeados, fitos na imensidão azul oceânica. Envolta ainda na névoa do caos, suavemente ela deslizava pela macia areia, deixando após si rastros tingidos da profundidade. Caminhava rumo às águas, serenamente, até fundir-se na junção água e céu do horizonte taciturno. Seus olhos ainda faiscaram e entao, levada pelo vento, emprestou seu brilho aos olhos de uma gaivota solitária que de repente surgiu voando contra o céu cobalto.

Assim ela se fora, embarcara serenamente nas venturas de um por do sol, rubra de riso matizara-se nas cores estonteantes e lá permaneceu até que as trevas da noite apagassem o brilho de suas cores resplandescentes e cobrissem a abóbada celeste de lágrimas estelares.

Quem fora? Que venturas vivera? Que importa? Ela fora tudo no plácido oceano onde refletia-se como pedaço de céu, fora o nada na inexplicação das águas, um espírito de borboleta que pairava no ar, uma alma de libélula que tocava a superfície do oceano e podia voar novamente. Fora um inebriante perfume que exalara em aromas a flor da tarde e, embora arrancada de seu talo, enfeitava os negros cabelos da noite.

Quando a Euforia da tarde silenciou, tendo a noite rompido seu pranto pelas róseas memórias, surgiu distante prateado como a luz da lua, um veleiro branco solitário, com um diáfano marinheiro à proa que, atando suas mãos ao vento, juntos, vento e marinheiro balouçavam as leves velas brancas:

Adeus... Adeus...