sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Nano-nenê



Um bebê indefeso
Nasceu no meio da floresta densa
Olhos angelicais,
Irresistível sorriso banguela
Brincava com cobras
Imitava o rugido do leão
Foi amamentado pelas lobas
Acalentado pelos uivos serenos
E ensinado nas fases da lua

Um menino cujas plantas dos pés
Conheciam se pisavam
Pedras, grama ou ser vivente
Para escapar da crueldade
Que poderia vir a ser
Esmagar formigas inocentes

Um menino magricela
Crescendo esticado
Como os cipós longilíneos
A floresta era um playground gigante
O pequeno infante escorregava
No limo das rochas aspergidas
Da fonte, da mesma em que se banhava, bebia
Purificado das águas de sabedoria

E o menino teve fome
Cozeu para si um cordeiro
E desde então o lobo lhe incomodou
Passou a persegui-los
Em prol de seu rebanho

E veio um dia a pisar em um espinheiro
E da pele do cordeiro fez para si
Alpercatas protetoras
E seus pés deixaram de ler o chão
Para aprender quão alto
Poderia galgar sua criação

Temeroso de ser mordido
Pelo áspide, fez do cajado cutelo
Plantas se tornaram sorrateiras
Esconderijos, de ameaças peçonhentas

E o cutelo se tornou machado
Cortou com ele um campo
E organizou as sementes
Dementes
Que cresciam a esmo

E da madeira fez uma caverna
Longe das fendas das pedras
Uma cadeia em meio ao campo limpo
De pedras de plantas de perigo

E o menino já moço descobriu sua nudez
Cobriu parte de sua tez
Nas mantas sutis da moralidade

E conheceu mulher
Gerou para si filhos protegidos
De todos os perigos
Filhos criados em pequenas jaulas
Ansiando ler o chão com a planta dos pés

E criou manuais
Para a proteção das gerações futuras
E quanto mais livros
Mais floresta se extinguia

O pequeno gênio entusiasmado
Trancafiado em sua gaiola cristalina
Maravilha-se de sua obra-prima
Já não conhece o ébano
O negro vem do asfalto
A fruta do supermercado

Dentro do sistema do sistema
Começa a embrenhar-se
No desenvolvimento
de besouros nano-tecnológicos
Pássaros já são de aço
tesouros de plástico

Os filhos crescem atormentados
Em oroboro doentio
Obedientes, aterrorizados
Se matam para poder pagar o médico
Pajés já não curam
Filhos febris

O sol incomoda se é quente
A chuva se molha
A seca se definha a erva
Filhos que varrem raivosos as folhas
Dadivosas das árvores franzinas

Enquanto os dedos do robo-homem
Manipulam já  possibilidades
Astronômicas
Soluções fenomenais
Para fugir das lendas
E quanto mais sábio,
Mais se lhe aperta a venda
Já não ouve o que diz
A mensagem do pássaro
Que se esmagou na vidraça












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