terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pedido de Natal



            As ruas da cidade estão feéricas, iluminadas e sorridentes. De férias, muitos vêem à cidade das brisas suaves em busca de movimento, cor e vida. É dezembro, e dezembro é o mês de se esperar por um ano melhor, é o mês em que o brilho nos olhos esperançosos das crianças contagiam a todos. Nos brinquedos embrulhados em papéis coloridos há a esperança, a promessa de que sorrir é certo, e que a felicidade de agora pode durar para sempre.
            Macia, desliza a neve postiça no palco da Concha Acústica, a névoa artificial colorida pelos holofotes reluzentes emoldura as vozes da cidade. É noite de dezembro, as estrelas longínquas estão além dos deuses, porque é Natal e as luzes dos intermináveis pisca-piscas iluminam o céu da cidade.
            Na arquibancada da Concha Acústica, bem próxima à calçada de paralelepípedos bicolores, longe da conglomeração humana dos transeuntes tardios, há uma mulher sozinha.
 A mulher é pequenina e fraca, tem os cabelos oxigenados e uma ampla faixa oculta-lhe um ferimento qualquer. Pode-se de longe vê-la estremecer, desolada, debruçada sobre os próprios joelhos ela olha para os pés descalços e não consegue conter um pedido ao Papai Noel.
 O pedido da mulher não é feito de palavras escritas, faladas ou pensadas, mas sua mensagem ecoa sobre os ouvidos, mais alto que o som dos poderosos falantes que amplificam as vozes dos que cantam. Encolhida ela não pode cantar, e o seu pedido estrondoso é uma lágrima silenciosa que cai.
Se não houvesse tantas luzes na cidade, haveria estrelas para ela, pois todas as que estão visíveis são compradas, vê-se, contudo que ela não pode comprar uma estrela.
O pedido da mulher da praça é só uma estrela natalina. Será que ela vai ter Natal?
            

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