segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Thea Teteia

     



Uma boneca em forma de avó

assim foi minha Dorothea

cabelos longos em forma de coque

penteados

ungidos de azeite de oliva

durante quase toda a vida

pretinhos

Minha vó Thea

sempre uma tetéia

de terninho

combinando

sapatinhos com saltinhos

Pedra de esquina

toda manhã matinava

e varria a longa ciranda

varria as lágrimas

enquanto falava com Deus

às vezes agradecia alto:

“Glória “tioh” nome Senhor!”

minha tetéia

carregava em suas veias

os longínquos polímeros

desde Poblete e

Pozuelo de Calatrava

Vó Thea é história

início da minha história

nossa história coletiva

dos tempos em que a terra

foi salvação

em tempos de guerra

Trabalhadora

desde tempos de arados

gado

café

alface

vó Thea é nossa própria face

forte sem medo da lida:

lavou

cozinhou

bordou

cuidou…

sobre todas as coisas

alinhavou nas tramas

do nosso coração

os doces fios em crochê

da colcha amor

bem quentinha

“o fia a vó não esquece você

todos os dias apresento

em oração”

que paz ir dormir sabendo

que a vó Thea orou por nós

Choramos por ti

nossa Tetéia

porque hoje o céu não recebe

mais uma oração por nós

hoje nós vamos nos debulhar

em pranto

lembrando que amamos tanto

os dias do teu encanto

te agradecemos pela luz

pela graça

pela força

por nos abrir a porta

Hoje a luz divina

raiou sobre a terra

e a levou para lá

Vejo ela de terninho branco,

sem rugas

véu na cabeça

sorrindo aquele lindo sorriso

e brilhantes:

os olhos

a aura

um dentinho de ouro

ela levanta e anda

com as pernas ágeis

adentra os portões

do paraíso

encontra o vô

o pai

o Joãozinho…

os filhos que já dormiram

traz os molhos cheios

frutos de toda sabedoria

que semeou em vida

ela apresenta-se diante do trono

ao Pai das luzes

envolto de dourado a chama:

“Dorothea!”

E tanto quanto em vida

ela diz:

“Eis-me aqui Senhor”