quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Marcão! Eu recordo com saudade!


Eu recordo com saudade!

Àqueles tempos de criança

quando aos domingos íamos

às reuniões de jovens e menores

quando o bordado da simplicidade

ornava as bocas dos jovens

e encantava as jóias preciosas

brilhantes nos olhos das crianças



Quantas vezes

Congregávamos em prantos

e como uma manhã

a alegria chegava certa,

em ondas, em cantos



Era menininha triste

pobre e necessitada

mas que riqueza tínhamos

quando às madrugadas

os jovens chegavam

na janelinha simples

enferrujada…



Como azeite puro

ecoavam nas noites estreladas

harmonias como de anjos

além da sombra do flamboyant



Aquelas lágrimas secaram

aquele riso largo ecoa ainda

mas o canto, este subiu ao céus

e reverbera desde o infinito



Hoje os anjos lhe deram

as merecidas asas

e uma harpa acompanha

a gravidade da voz maviosa

Como o céu está feliz!



Hoje desce à terra

o invólucro amado que conhecemos

semeado na terra

um sonho tão lindo

a brotar em esperança

de um dia encontrá-lo junto a Deus

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Thea Teteia

     



Uma boneca em forma de avó

assim foi minha Dorothea

cabelos longos em forma de coque

penteados

ungidos de azeite de oliva

durante quase toda a vida

pretinhos

Minha vó Thea

sempre uma tetéia

de terninho

combinando

sapatinhos com saltinhos

Pedra de esquina

toda manhã matinava

e varria a longa ciranda

varria as lágrimas

enquanto falava com Deus

às vezes agradecia alto:

“Glória “tioh” nome Senhor!”

minha tetéia

carregava em suas veias

os longínquos polímeros

desde Poblete e

Pozuelo de Calatrava

Vó Thea é história

início da minha história

nossa história coletiva

dos tempos em que a terra

foi salvação

em tempos de guerra

Trabalhadora

desde tempos de arados

gado

café

alface

vó Thea é nossa própria face

forte sem medo da lida:

lavou

cozinhou

bordou

cuidou…

sobre todas as coisas

alinhavou nas tramas

do nosso coração

os doces fios em crochê

da colcha amor

bem quentinha

“o fia a vó não esquece você

todos os dias apresento

em oração”

que paz ir dormir sabendo

que a vó Thea orou por nós

Choramos por ti

nossa Tetéia

porque hoje o céu não recebe

mais uma oração por nós

hoje nós vamos nos debulhar

em pranto

lembrando que amamos tanto

os dias do teu encanto

te agradecemos pela luz

pela graça

pela força

por nos abrir a porta

Hoje a luz divina

raiou sobre a terra

e a levou para lá

Vejo ela de terninho branco,

sem rugas

véu na cabeça

sorrindo aquele lindo sorriso

e brilhantes:

os olhos

a aura

um dentinho de ouro

ela levanta e anda

com as pernas ágeis

adentra os portões

do paraíso

encontra o vô

o pai

o Joãozinho…

os filhos que já dormiram

traz os molhos cheios

frutos de toda sabedoria

que semeou em vida

ela apresenta-se diante do trono

ao Pai das luzes

envolto de dourado a chama:

“Dorothea!”

E tanto quanto em vida

ela diz:

“Eis-me aqui Senhor”

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Ponto


Nascimento: ponto de partida

Oscila a vida

Ponto a ponto

ponto na célula: núcleo

Ponto de ônibus

espera

chegadas e partidas

Ponto de vista

distintos

Ponto de ligação é ponte

pontos oscilantes

no sangue: pulso

na música

pontos entre silêncios

na mínima

três tempos

se ponto de duração

no corte para cura

em morse

para dizer em silêncio

O ponto da questão

para se concordar ou não

panela em ponto de ebulição

calda em ponto de fio

carne ao ponto

na orelha ponto de luz

ponto pequeno

ponto G

Shakeaspeare: ser ou não ser

nas cartas náuticas

coordenadas

em ter: tudo ou nada

A ponto de enlouquecer

encontrar um ponto de luz

estrela guia

um ponto no mar

a ilha

se te explico:

dois pontos

binários: dois fatos

em fibra ótica

pontos impulsos

em competição

pontos ao pódio

em afetos: amor e ódio

Estrelas, pontos no infinito

nas indecisões: três pontos

no céu: três Marias

na máquina

pesponto

à mão: ponto cruz

entre o céu e a terra:

pontífice

filosofia

nos seguimentos de reta

limites com início e fim

então a morte

Ponto final.

O ponto?

O ponto!



Fabiana Avila

25 Setembro 2024




quinta-feira, 27 de junho de 2024

Lena Lena Madalena

a que ria

a que chorava

a que juntava

a que alegrava

Madalena partiu

ai de nós que ficamos


tia Lena!

Parece soar longínquo

a voz das crianças

ao pé da aboboreira

à sombra das mangueiras


tia Lena!

Ela descia do carro marrom

trazendo seus molhos cheios

de novas

de sonhos

de choros e alegrias

Ela sempre trouxe

o presente

de sempre estar presente!


Aos doze meu primeiro curso:

datilografia


toda data natalícia

ela chegava trazendo cores

do melhor! Ela dizia:

Faber Castel


Tia Lena,

cheiro de baunilha

de recheio de bolo


- Três beijinhos:

Que é pra casar!


Tia Lena,

amigo secreto predileto


Madrugava sempre

Madalena:

Animada

Cuidadora

Sem reclamar da lida


Sempre teve o dom de respeitar

de ver além

mas com olhos de simplicidade

ditava sabedoria


Madalena em outra história

foi a primeira

a anunciar Cristo vivo

Nossa Madalena não diferiu:

anunciou que o caminho

a verdade e a vida

é amar

e estar em família

Madalena venceu hoje

mas sua vida continua

dentro de nós

em forma de puro amor



homenagem à minha querida tia Lena

que dormiu hoje


gratidão e saudades eternas,


com todo esse amor que fica,

já que não pudeste ficar...


Fabiana Avila